
Bem me lembro do homem-cão.
Aquele não era dos mais estáveis.
Tal qual um vampiro ou uma pulga, vivia sob a condição devastante de subjugar o próximo para sua própria sobrevivencia. Diferenciava-se por ser um tanto quanto dócil e de olhar angelical.
Me lembro de como aquele defendia a utilização da palavra “sim” de outras bocas quando sempre recitava “nãos” encharcados de graças e risos. Confessou outrora que era como jogar uma rosa numa tigela de bacon frito.
Não entendi.
Enfim, miserável homem-cão, fazia-se de desentendido quando lhe perguntavam sobre o que significaria “gostar”. Era um aspirante a desocupado que assoviava valsas a noite para não ter de assoviar um tango sozinho de manhã. E se lhe perguntassem o que estava pensando...bem, ele responderia com outras perguntas. Em lá menor (de preferencia), dizia.
Naquelas manhãs de tango, sentia-se imponente, e assim como Bennet, entendia o silencio como elogios, os elogios como elogios e as críticas como silencio.
Desde aquela vez, do famigerado bacon, não o vi mais.
Não o vi por muito tempo.
Quem diria que o encontraria numa manhã nublada parado em uma banca de jornal, lendo aleatoriamente um daqueles livros de coleções baratas.
Ao colocar o papo em dia, o percebi diferente. Para minha surpresa, não assoviava.
Não hesitei quando vi oportunidade de lhe perguntar o que quis dizer com a história do bacon. Me respondeu:
“Gostar deve ser a melhor forma de ter. Ter deve ser a pior maneira de gostar.”
Daí que eu não entendi nada mesmo.